domingo, 7 de junho de 2015

Viagem à Terra Santa em 2014. 11. Em 30 de Abril. A caminho de Jericó.

11. A caminho de Jericó

O dia 30 de Abril de 2014 começou bem cedo e numa azáfama própria de um mudar de hotel numa viagem de turismo em que temos de fazer as malas, colocá-las a tempo num determinado ponto e redobrarmos os cuidados para não nos esquecermos de nada.

Despedimo-nos do simpático hotel Olive Tree. Em breve o autocarro se pôs em marcha. Como era habitual, o P. Artur orientou-nos numa breve oração matinal.

Dissemos adeus à cidade de Jerusalém.
 
 
O destino era Jericó.

Tinha lido que esta cidade é a mais antiga da face da terra, ainda existente e continuamente povoada desde há mais de 10 mil anos!  É obra.  E é uma cidade várias vezes mencionada na Bíblia. No Antigo Testamento a propósito de nascentes de água refrescantes, dos ricos palmares e de conquistas e reconquistas com os inerentes banhos de sangue. No Novo Testamento quando se conta que Cristo passou por lá e curou várias pessoas, incluindo dois cegos, e quando é relatado o episódio de Zaqueu. Era um cobrador de impostos, de baixa estatura, um homem da classe média-alta de então, que sabendo que Jesus iria passar em determinada rua, subiu para uma árvore, um sicómoro, para não perder a oportunidade de o ver, pois sabia que ele viria rodeado de muita gente.

Diz Lucas (19.4): E correndo adiante subiu para um sicómoro bravo para o ver, pois sabia que ele iria passar por ali.
 
O sicómoro é uma espécie de figueira. Vi na Net que também lhe chamam figueira doida e figueira africana. E que dá figos comestíveis.  Mas, quando é bravo, para que servirá?

Zaqueu cobrava impostos ao serviço do império romano. Com tais funções tinha muito poder e, muito provavelmente, também uma grande fortuna. As suas relações com os contribuintes não deveriam ser nada fáceis. A matéria coletável era determinada a olho por ele que logo passava a conta de liquidação. Seguramente que, com excepção de alguns "amigos", seria, no geral detestado. Lucas diz isso.

Jesus, para espanto dos que o acompanhavam, chamou-o logo pelo nome, e mandou-o descer da árvore e pediu-lhe hospedagem. Zaqueu emocionou-se e arrependeu-se publicamente dos seus exageros fiscais e outros. Mais tarde, deve ter sentido uma enorme tristeza aquando da prisão e morte de Cristo. Li algures que, segundo a tradição, tomou o lugar de Judas logo após a ascensão de Cristo, foi batizado com o nome de Matias, e se dedicou à evangelização, tendo sido o primeiro bispo de Cesareia Marítima, a cidade que visitámos logo no começo da nossa peregrinação.

Tinha curiosidade em saber se o sicómoro e a casa onde Zaqueu acolheu Jesus ainda existiriam.

Quando Jesus passou em Jericó e deu origem a este episódio ia na direção de Jerusalém. Nós fazíamos o mesmo percurso, mas em sentido contrário, comodamente instalados num autocarro com ar condicionado, por uma estrada excelente que, salvo erro, até é a número um das estradas da Terra Santa. São cerca de trinta quilómetros.

No tempo de Jesus, por montes e vales e por caminhos tortuosos e acidentados, a viagem seria bem mais difícil e demoraria pelo menos dois dias.
 
 
 
 
Enquanto o autocarro rodava, eu olhava para as encostas áridas que se sucediam e pensava como terá sido a viagem de Cristo. Com excepção de algumas manchas de pequenos arbustos e de uma povoação ou outra, por vezes com avisos de perigo para os israelitas, a paisagem é uma contínua mancha seca e amarelada. Sentimos sede só de olhar para ela.

Vi um ou outro acampamento talvez de gente nómada. E, por vezes, também um camelo ou outro.
 

As primeiras casas de Jericó começaram a aparecer. Primeiro isoladas e depois de um lado e do outro da estrada. Estávamos na Palestina.


 

Uma carroça puxada por um cavalo, carregada de produtos agrícolas, deu a ideia de que, na cidade, apesar de muito antiga e de ter muito turismo, ainda há quem se dedique à atividade agrícola.
 
 
Há extensas manchas verdes de palmares e de produtos agrícolas rasteiros. As lojas sucedem-se. Os produtos expostos são maioritariamente utensílios de plástico, panos, frutas e legumes.

A certa altura o autocarro abranda e encosta à direita. Os guias chamam-nos a atenção para umas árvores que estavam num jardim, tendo uma delas um tronco mais grosso.
  
Perto há placas informativas,  o que significa que são importantes. E fomos informados de que a que tem o tronco maior é muito antiga. E que foi nela que, segundo a tradição, Zaqueu se empoleirou para poder ver Jesus. Não há registos coevos desse encontro. Mas James Jaques Tissot retratou-o assim na ilustração que fez e que, com a devida vénia ao museu de Brooklyn, eu aqui reproduzo para comodidade dos leitores, recomendando que façam uma visita à página  do museu e vejam como são ricos os trabalhos deste pintor do século XIX.

 
A paragem demorou uns escassos minutos e nem chegámos a sair do autocarro.

Restam-nos agora as imagens visuais, avivadas pelas fotografias que pudemos tirar através do vidro da janela.

 
 
Estávamos em Jericó.

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