segunda-feira, 18 de maio de 2015

Viagem à Terra Santa em 2014. 10. Em 29 de Abril. Em Jerusalém. 10.4

10.4. A Pedra da Unção

No apontamento anterior visitámos o Monte do Calvário. Como verificámos, talvez a palavra monte seja algo exagerada. Este lugar santo assemelha-se mais a uma pequena elevação, que no tempo de Cristo seria uma despida formação rochosa de pedra branca.

Mal descemos as escadas do Calvário, estávamos junto à Pedra da Unção.
 
Mapa do corte da Igreja do Santo Sepulcro apresentado na página 91 do guia American Express Jerusalém e a Terra Santa.
 
Aí detive-me uns minutos a imaginar como seria aquele lugar no dia em que Cristo foi crucificado.

Os textos sagrados referem que José de Arimateia era proprietário de um horto que estava ali perto. E que aí tinha escavado na rocha uma gruta para lhe servir de túmulo quando chegasse a sua hora. E que logo a seguir à morte de Cristo ele foi ter com Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus. Pilatos estranhou que Jesus tivesse morrido tão depressa e mandou certificar-se de que tinha mesmo morrido. Ele e Nicodemos foram recolher o corpo e levaram lençóis de linho e ligaduras, óleos e perfumes, para o amortalharem segundo os ritos judaicos. E que a seguir o depositaram nesse túmulo que José de Arimateia tinha preparado para si e que ainda não tinha sido estreado.

Mas a minha curiosidade continuava-me a questionar como seria todo aquele espaço nesse tempo. Seguramente um descampado sem todas aquelas paredes monumentais que agora ali se veem.

Houve um pintor francês, James Jaques Joseph Tissot (1836-1902), que foi contratado por uma empresa para pintar quadros bíblicos com vista a decorarem uma edição especial dos livros sagrados. Ele não se fez rogado e foi para a Terra Santa para recolher informação sobre os lugares bíblicos, sentir o ambiente e assim inspirar-se para poder incutir mais realismo às cenas que iria pintar. Produziu várias centenas de aguarelas, muito lindas, coloridas e expressivas, que nos fazem sentir nos lugares reais em que, supostamente, as cenas pintadas aconteceram. Vale a pena guglar o nome deste pintor e dar uma olhadela pelas reproduções que se encontram acessíveis na net.

Senti-me particularmente impressionado por uma pintura em que representa o Gólgota e espaços adjacentes no momento em que Cristo ali estava a agonizar.

Tissot esteve na Terra Santa, inclusive no Monte do Calvário,  e também sentiu a necessidade de imaginar como terá sido o ambiente local na tarde da primeira sexta-feira santa. E pintou aquilo que o seu espírito pôde imaginar, depois de despir todo aquele ambiente dos milhares de toneladas de pedra que, no decorrer dos dois últimos milénios, para ali foram trazidas para integrarem aquelas paredes e abóbadas monumentais.  Representou o ambiente de uma forma magistral e muito ousada, pois imaginou-o como Cristo o teria visto do alto da Cruz pela última vez.

Para facilidade dos leitores deste blogue, aqui deixo a reprodução dessa maravilhosa aguarela, com a devida vénia ao pintor e a quem agora mantem direitos sobre ela, a página jamestissot.org.
 
 
Dizem os livros que a Laje da Unção foi ali colocada em 1810. Mas onde terá sido recolhida? Qual o grau de probabilidade de ter sido essa pedra grande e fria aquela em que o corpo de Cristo, ainda quente, foi depositado para ser amortalhado?


Uma coisa é certa. A pedra está ali, suntuosa, como testemunho do momento dramático em que o corpo de Cristo foi ungido para ser sepultado.
 
 
 
E, ao contrário de outros monumentos sagrados, não tem qualquer vedação e não vimos clérigos excitados aos berros como no Santo Sepulcro. E podemos estar ali o tempo que quisermos e tocar a pedra ou mesmo debruçarmo-nos sobre ela sem quaisquer constrangimentos.

 
Pinturas nas paredes próximas da Pedra da Unção
 
Suspensas por cima da pedra, estão dezassete lâmpadas. Quatro delas foram oferecidas pelos cristãos arménios e treze pelas comunidades coptas, gregas e latinas.

Sem comentários: