quarta-feira, 18 de junho de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 – 6. Dia 25 de Abril, em Tiberias. 6.3.

6.3. No Mar da Galileia

A visita à Igreja e ao Monte das Bem-Aventuranças foi com os minutos contados. Esses minutos foram suficientes para ver mas não para estar. Não tardou que os nossos guias começassem a insistir connosco para regressarmos ao autocarro. Só depois compreendi porquê. É que há locais que se visitam com marcações prévias para determinada hora e há que estar lá a tempo conforme o combinado.

Desta vez a viagem de autocarro foi relativamente curta. Demorou o tempo necessário para descermos a colina do Monte das Bem-Aventuranças e nos dirigirmos para o ponto da margem do Mar da Galileia em que existe uma ponte de embarque. Durante a descida o nosso guia Sebastião explicou que iríamos dar um passeio num barco construído ao modo do tempo de Jesus, segundo uma réplica bem conservada que os arqueólogos recuperaram do fundo do mar em 1986 e que está guardada por ali perto, no Kibbutz Guinosar, num museu junto à ponte onde iríamos iniciar o passeio de barco. Gracejou dizendo que esperava que ninguém tentasse andar sobre as ondas como Jesus, pois garantia ele que, se o fizesse, iria seguramente ao fundo e ele não tinha os poderes de Jesus para o salvar como fez a Pedro, estendendo-lhe a mão e perguntando Homem de pouca fé, por que duvidaste?

O Mar da Galileia ou Mar de Tiberíades é, afinal uma lago com 21 kms de comprimento e 9 kms de largura. Está a 212 metros abaixo do nível do mar. E desde os tempos bíblicos mais remotos e até aos dias de hoje há relatos que confirmam o fenómeno da abundância de peixe. É alimentado pelo Rio Jordão que entra a norte e escoado pelo mesmo rio a sul. Nem sempre é um mar de águas calmas. Por vezes geram-se tempestades provocadas por fortes redemoinhos de ventos vindos das montanhas à volta que se cruzam e enfurecem.



Antes de chegarmos à ponte propriamente dita, encontrámos um muro no lado direito, relativamente extenso, serpenteante, com uma capa lateral e cimeira sobre a qual há um mural com diversos motivos da zona representados em azulejo alicatado, multicolor. Logo à entrada, tem uma frente de uns três a quatro metros onde está escrito em inglês, em hebraico e em árabe que se trata de uma obra artística criada e trabalhada conjuntamente por jovens de cultura judaica e árabe. É bonito lermos isto.



Entre os motivos distinguimos uma fila de camelos e um grupo de salamandras e cenários com montes, árvores, água e ondas marinhas.



À esquerda há uma construção de linhas modernas por onde passaremos no regresso, em que se situa o museu que guarda, entre outras coisas, o barco antigo do tempo de Jesus. Além da loja de recordações é aproveitado pelos turistas para utilizarem as casas de banho.




Fomos direitinhos para a ponte, no fim da qual, no nosso lado direito, estava um barco à nossa espera. O barco tinha uns dez metros de comprimento. A proa era oval com espaços reservados à frente, onde estava o mastro para as bandeiras, e atrás onde se sentava o capitão e havia uma mesa de som, com colunas. No resto, de um lado e do outro, havia bancos corridos fixos com extensão suficiente para se sentarem todas as trinta e cinco pessoas do grupo. O convés tinha uma cobertura que me pareceu ser em zinco canelado e que protegia as pessoas do sol.




Foi o Sebastião que, em nome do capitão e da tripulação nos deu as boas vindas. E como o grupo que estava ali era português, havia que identificar o nosso país de origem, içando, no mastro, a bandeira portuguesa ao lado da de Israel, cerimónia que iria ter forma solene ao som do hino nacional português.



Foi muito emocionante este pormenor. Era, como já referi, o dia 25 de Abril, feriado em Portugal. E sei, por experiência própria, que, quando as pessoas e as coisas que nos são queridas estão longe, adquirem para nós mais valor sentimental. A minha Mãe, que criou seis filhos, costumava dizer aos filhos presentes que gostava mais daquele que estivesse doente e dos que estavam ausentes. Hoje compreendo melhor o que ela queria dizer. Como vivi mais de uma dezena de anos em Macau, era com saudade que via lá filmes que, provavelmente, em Portugal nunca teria paciência para ver. Refiro-me ao Costa do Castelo, à Aldeia da Roupa Branca, à Maria Papoila, ao fado de Estudante e outros.

Por isso não fiquei surpreendido ao ver toda a gente a pôr-se de pé quando das colunas de som saiu a primeira nota de A Portuguesa. E mais. Toda a gente encheu bem os pulmões para cantar Os Heróis do Mar…

Não tenho dúvida de que Cristo e todos os apóstolos ouviram bem os ecos do nosso canto a serem repetidos pelas montanhas à volta, de Israel, da Jordânia e da Síria.

Depois foi a altura de, sentados, olharmos para a paisagem ambiente e gozarmos a placidez daquele local místico. A certa altura, o nosso bom P. Artur puxou do livrinho e leu a passagem bíblica de S. Pedro a caminhar sobre as águas na direção de Jesus e afundar-se já quando estava perto dele que lhe estendeu a mão e o puxou chamando-lhe Homem de pouca fé .

Durante o percurso houve tempo para ouvirmos e cantarmos diversas canções, entre as quais a do chamamento Tu fixaste os meus olhos…, a Põe tua mão na mão do meu Senhor da Galileia e Shallon .

A tripulação tinha a sua loja de recordações que apresentou com bastante poder persuasivo. Eu comprei um mapa plastificado ilustrado com os milagres de Jesus à volta daquele mar, para poder explicar melhor esta minha visita às minhas netas. O mapa estava está escrito em português. Posso dizer agora que este objetivo foi cumprido pois elas logo tomaram conta dele para o levarem para a escola, para explicarem aos professores e colegas a viagem dos avós.

O barco foi lentamente até ao meio do lago e regressou ao local de partida.

Ainda, junto à ponte, pude observar e fotografar diversas garças brancas que estavam junto à água.



Passámos depois pelo tal edifício de linhas modernas para vermos, de fugida, o tal barco antigo, irmos às casas de banho e, para quem quis, comprar alguma recordação.

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