domingo, 24 de maio de 2015

Viagem à Terra Santa em 2014. 10. Em 29 de Abril. Em Jerusalém. 10.7.

10.7. Os quatro bairros de Jerusalém.

Na cidade de Jerusalém convivem quatro comunidades, acantonadas nos respetivos bairros: a comunidade cristã, a judaica, a arménia e a muçulmana.

O nosso tempo de permanência na cidade não foi suficiente para compreendermos bem o modo de vida das quatro comunidades, nem o seu modo de relacionamento e regras de convivência.

Enquanto nós lá estivemos respirava-se um espírito de convivência pacífica e, em momento algum, nos sentimos inseguros e, muito menos, ameaçados.

A nossa vivência na cidade foi mais rica no bairro cristão. Aí pudemos participar na via sacra e visitar alguns dos lugares santos, com referência especial aos três considerados como sendo os mais importantes da cristandade: o Calvário, o Santo Sepulcro e a Pedra da Unção.

Vi num guia turístico que, no bairro cristão, há quarenta lugares santos. Se aí forem consideradas as estações da via sacra podemos dizer que vimos uma boa parte deles.

Não tivemos oportunidade de visitar o bairro muçulmano. E se eu gostava de ir lá para visitar a Mesquita da Rocha. Mas não se pode ter tudo.

Além do bairro cristão, passámos pelo bairro judeu,  onde pudemos visitar o Muro das Lamentações, e também pelo bairro arménio, onde almoçámos.

Feita esta introdução vou retomar a narrativa no ponto em que a deixei no apontamento anterior.

Tínhamos acabado de sair da basílica do Santo Sepulcro e aproveitei para recolher mais algumas imagens do pátio amplo junto à sua entrada.
 

Os nossos guias convidaram-nos a segui-los. Detiveram-se num ponto de fácil referência num dos gavetos que dão para a Via Dolorosa. Aí deram-nos rédea livre por meia hora para passearmos à vontade e fazermos compras se quiséssemos.
 
 
 

As ruas são apertadas e totalmente ladeadas de pequenas lojas de frutas, bebidas e recordações turísticas. Por vezes estão cobertas por arcadas abobadadas.
 
 
 
 
Os lojistas pareceram-me muito simpáticos, mas poucos falam inglês. Por isso, a comunicação  é sobretudo gestual. Ao contrário do que acontece nas ruas de lojistas do oriente, sobretudo Hong Kong e Macau, não se vê uma loja de artigos electrónicos. Eu precisava de comprar um novo cartão para a minha máquina fotográfica e não localizei nenhuma loja. Depois perguntei ao guia Sebastião onde haveria uma e ele disse que no bairro arménio.



Daí que o nosso passeio livre para pouco mais deu que revermos a rua por onde tínhamos passado durante a via sacra, então mais preocupados com  a participação nesse ato piedoso. Agora podíamos apreciar o meio ambiente e reparar noutros imóveis com aspecto monumental.
 

O tempo de retorno ao ponto de encontro chegou depressa. Por isso apressámo-nos para estarmos lá à hora combinada.

Ninguém se perdeu nem houve atrasos significativos.


 
Reiniciamos o nosso percurso seguindo os guias. O objetivo agora era irmos ao Muro das Lamentações.

Durante alguns minutos percorremos ruas estreitas. Mal tivemos tempo para tirar uma fotografia ou outra aos edifícios e outros pontos que nos chamavam a atenção.
 

Não demorámos a chegar a um ponto de controle de segurança do tipo dos que temos de passar quando embarcamos em aviões. Os guardas pareceram-nos simpáticos e não nos criaram quaisquer dificuldades. Pareceu-me que o nosso guia Sebastião já lhes era uma cara familiar pelo modo como se dirigiram a ele.


 
Entrámos assim no bairro judeu.

Passados uns minutos, estávamos numa praça bastante ampla que logo reconheci como sendo a praça do Muro das Lamentações que estava ao nosso lado esquerdo. Ao fundo via-se um troço da muralha de Jerusalém.



Os guias reuniram-nos junto a uns chapéus de sol abertos e explicaram-nos como devíamos proceder para visitar o local.


O primeiro espaço que ali estava a  jeito era reservado à oração dos homens. Lá mais ao fundo havia outro mais pequeno, reservado às mulheres. Entre os dois espaços havia um tabique separador relativamente alto.
 
 
Logo à entrada havia uma mesa com muitos quipás  disponíveis que os homens podiam usar se quisessem. Depois podiam ir junto ao muro e orar ou simplesmente tirar fotografias.
 

Eu aproveitei para fazer um momento de recolhimento com as mãos no muro e lembrar todos os meus. Afinal o Deus dos judeus é também o Deus dos Cristãos, só que um pouco mais velho. E há toda a probabilidade de, nos meus antepassados remotos, terem existido devotos judeus. Pelos meus entes queridos atuais e ausentes e pelos meus antepassados das gerações mais próximas e mais antigas e por todos os meus amigos já falecidos, e pela humanidade em turbulência, encostei as mãos religiosamente àquela grande muralha.
Vi que havia pessoas que deixavam nas fendas das pedras papelinhos com os seus desejos. Talvez assim Deus os ouça melhor.
 
Pude, nesse momento, como que por intuitiva inspiração, sentir a grandiosidade e significado daquela muralha assente em pedras de tamanho monumental.
 

Seria interessante ter mais tempo para estar ali e imaginar as muitas histórias que aquelas pedras enormes terão para contar desde o tempo em que ali foram mandadas colocar por Herodes o Grande, algumas dezenas de anos antes da era de Cristo. Nessas histórias destacam-se certamente os horrorosos dias dos anos setenta em que o templo foi destruído, aliás como toda a cidade de Jerusalém.
Após o momento de recolhimento, pudemos ir, eu e os companheiros que estavam comigo, visitar as instalações anexas, cobertas, junto à muralha.
 

 
 
São um misto de espaço de oração, museu, biblioteca, escola, e são muito amplas. Há grandes estantes cheias de bojudas lombadas de livros de todos os tamanhos. Há vitrines com livros muito antigos expostos. Há outras que têm toras semiabertas. Há homens trajando segundo o rigor judaico com as mantinhas às riscas nos ombros, os cabelos em trancinhas com caracóis, camisas brancas e colete e calças pretas. Há outros que lêem os livros sagrados, sentados ou em pé, fazendo sucessivas vénias e liberando ladainhas em surdina.
 
Nós pudemos olhar, fotografar e ir a todos os recantos sem ninguém se preocupar connosco. Mostraram-se completamente indiferentes à nossa presença e até cheguei a perguntar-me se, por milagre, nós não nos teríamos tornado invisíveis para eles.
Saí daquela sala ampla, que, na verdade é uma sinagoga, e regressei ao recinto. Vi que podia tentar, colocando-me em cima de umas pedras que estavam junto ao tabique de separação dos espaços homens e mulheres, estendendo o braço, fotografar o lado de lá. E acho que consegui, mesmo sem ver o que fotografava.
 

Regressámos ao ponto de que tínhamos partido, ou seja aos chapéus de sol abertos junto ao limite da Praça das Lamentações. Os companheiros e companheiras iam chegando. Alguns não se inibiram de libertar os seus desabafos para dar conta das sensações que tinham experimentado.
 
Uma vez reunidos, os nossos guias informaram-nos de que iríamos seguir para o bairro arménio para aí podermos almoçar. Convidaram-nos a segui-los.
 

  

Saímos da Praça das das Lamentações para o exterior da muralha. Andámos algumas dezenas de metros a pé e voltámos a entrar na cidade, pela porta de  Jafa.
 
 
 
Recebeu-nos uma praça ampla.
 
  
Aí o Sebastiao foi comigo espreitar uma loja onde haveria artigos fotográficos. Porém o espaço estava fechado e a loja já não existia. Por isso continuámos o percurso entrando numa rua estreita com fachadas monumentais de um lado e do outro. Chegámos finalmente a um restaurante amplo onde as nossas mesas estavam reservadas e onde nós fomos sentados.
 
 
Ao lado estava um grupo bastante maior do que o nosso com o qual os poucos empregados estavam totalmente ocupados. Foi difícil dispensarem-nos alguma atenção inicial. Só passados longos minutos é que começaram a servir-nos. Mas foi tudo tão lento e demorado que chegámos ao fim com a sensação de nem sequer termos chegado a almoçar. Isto porque a comida que nos serviram, ao gosto arménio, tinha mais jeito de aperitivo e demorava muito a chegar. A certa altura eu já estava ansioso por sair dali para a rua.
No fim houve companheiros que fizeram questão de chamar o gerente e de lhe endereçarem os seus protestos pela pouca atenção que nos dispensaram e pelo deficiente serviço.
 
 
 
 

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