segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 - 7. Em 26 de Abril. Para Jerusalém. 7.7.

7.7. O lanche de melancia

Depois de sairmos de Jifna retomámos o caminho na direção de Jerusalém. Como Jifna fica a norte de Ramallah uns dez quilómetros, significa que iríamos passar novamente por esta cidade, se bem que não pelas ruas centrais.

De Jifna a Jerusalém são cerca de 30 quilómetros o que fazia prever que iríamos chegar ao destino ainda com muito sol. Mesmo fazendo uma pequena paragem para saborearmos as melancias da Palestina que o nosso guia e o condutor haviam comprado para nos presentear. Como estava muito calor iria saber bem comer uma boa talhada. O nosso guia também estava entusiasmado com a ideia e, provavelmente, já tinha algum local em mente. Mas o que ele não suspeitava é que o nosso lanche de melancia iria ter lugar numa esquadra da polícia de Israel.

A viagem estava a ser calma e serena.
 
 
O autocarro rodava por uma estrada bastante larga. Alguns companheiros dormitavam enquanto outros iam olhando descontraídos para a paisagem.

Num dado momento, quando o autocarro descia uma colina ligeiramente inclinada, ouvimos um grande estrondo no lado direito.
 
 
Todos demos um pulo de surpresa e susto nos nossos assentos, receosos e curiosos por saber o que teria acontecido. Os companheiros do lado da frente direita do autocarro levantaram-se num ápice e chamaram a atenção para o vidro da janela lateral direita que se tinha partido. Um dos companheiros disse que tinha visto na encosta da serra dois garotos furtivos que lançaram uma pedrada contra o autocarro com uma funda.

O Itam, o nosso condutor, abrandou a marcha lentamente e encostou mais à frente. Saiu calmamente para ver o que se tinha passado.
  
O vidro da primeira janela panorâmica da frente do lado direito estava estilhaçado.
 
 
 
Estávamos junto a um entroncamento em que há uma saída para uma estrada secundária que passará numa pequena povoação que aparecia na encosta da colina, muito perto do local de onde os garotos terão lançado a pedra. O Itam, fora do autocarro, telefonava para reportar o incidente à sua empresa e para obter orientações sobre o que deveria fazer. 
 
Tinham passado poucos minutos e apareceu um jipe militar que, após se inteirar do acontecido, partiu em grande velocidade pela dita estrada secundária.
 
Ainda estivemos ali algum tempo, parados e a conversar dentro do autocarro, tentando adivinhar as razões do incidente. Pudemos então verificar que as janelas do autocarro têm vidro duplo e que só se tinha quebrado o vidro do lado de fora, pelo que o autocarro podia continuar a sua marcha sem risco nem incómodo para os passageiros.

Ainda foi longo este compasso de espera em que o Itam não tirou o telefone da orelha. Entrou finalmente  no autocarro e pô-lo em marcha. O guia esclareceu então que tínhamos de ir ao posto de polícia mais próximo para participar o incidente, formalidade que era necessária, nomeadamente, por imposição da companhia seguradora.

Retomámos a marcha. Alguns quilómetros à frente, o Itam virou para a esquerda, para um conjunto de edifícios que estavam no cimo do monte. Pelos procedimentos de segurança e controlo para entrar, concluímos que era o tal posto de polícia, mas, verdadeiramente, parecia mais um grande aquartelamento militar do que uma esquadra policial.
 

Tinha uma amplo parque de estacionamento e o Itam pôde estacionar o autocarro à vontade, já perto de uma entrada para o edifício principal, junto ao limite do parque, com uma larga vista sobre toda a paisagem circundante. E foi aí que fizemos o nosso piquenique, comendo umas boas talhadas de melancia  que estavam relativamente frescas.
 
 
O Itam, coitado, lá foi com a sua carteirinha de documentos na mão para o interior do edifício, onde iria demorar muito, muito tempo.

Nós acabámos o lanche e ficámos por ali a conversar em grupos ou a fazer pequenos passeios individuais para respirar o ar puro que vinha das montanhas em redor e para ver o pôr-do-sol que se estava a aproximar. Outros companheiros, poucos, optaram por regressar ao autocarro e fechar os olhos em relaxe.

Como já tinha passado muito tempo desde a hora do almoço, e ainda mais com os efeitos da melancia, verdadeira água diurética, senti urgência em ir à casa de banho, pelo que me atrevi a seguir as pegadas do Itam até encontrar alguém. Entrei no pátio do edifício e vi dois homens vestidos à civil junto a uma porta iluminada. Perguntei-lhes em inglês se haveria por ali uma casa de banho. Eles responderam-me num inglês impecável, perguntando de onde eu era e a razão da minha estadia ali. E logo me conduziram ao interior da esquadra onde havia uma sala de trabalho no lado esquerdo, com alguns polícias fardados a olhar para ecrãs de computadores. No lado direito havia um gabinete fechado com porta de vidro, onde estava um agente sentado a uma secretária e, numa cadeira em frente, estava o Itam, com os cotovelos apoiados no tampo, lendo uma folha de papel.

Os agentes indicaram-me a casa de banho. Quando saí reparei que o Itam ainda estava a ler a folha de papel, mas prossegui pensando que já não demoraria muito tempo, pois não tardaria a assiná-la. Já estava a escurecer e toda a gente estava já dentro do autocarro. O bom P. Artur ia falando e contando histórias, no seu papel de, numa situação destas, encher chouriços para contrariar a ansiedade das pessoas.

O Itam acabou finalmente por regressar e antes de ligar o motor do autocarro trocou algumas palavras com o guia e com o P. Artur, que, logo a seguir, usando o microfone, informou que a polícia já tinha identificado os miúdos, que estes eram judeus e que muito provavelmente os respectivos pais iriam ser obrigados a pagar os prejuízos. Aqui comecei a ficar com pena dos garotos porque me pus a especular sobre a dureza dos corretivos que iriam receber dos pais.

Nós, no incidente, tivemos sorte e os garotos também. Pior teria sido se tivessem atingido o autocarro de frente, ou cabeça de alguma pessoa. Foi com um tiro de funda que o pequeno David atirou por terra o gigantão do Golias.


Chegámos finalmente a Jerusalém já muito em cima da hora de jantar.

Finalmente o hotel à vista em Jerusalém.

O nosso guia na Palestina, Denisson, despediu-se de nós com palavras calorosas e lágrimas nos olhos. Que tenha muita sorte no seu trabalho pois esforçou-se para a merecer.

O check-in no Hotel Olive Tree foi rápido porque já estavam com tudo preparado à nossa espera. A recomendação foi que fôssemos rapidinhos para ainda podermos jantar. E assim fizemos.

O jantar servido em bufet estava bem ao nível da categoria do hotel, um quatro estrelas. Pude acompnanhá-lo com um bom vinho tinto local, um Barkan, 2012.

Jamais me esquecerei do dia 26 de Abril de 2014, por tudo aquilo que me foi dado viver e conhecer.

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