sexta-feira, 5 de junho de 2015

Viagem à Terra Santa em 2014. 10. em 29 de Abril. Em Jerusalém. 10.10.

10.10. O Museu do Holocausto

No capítulo 56 de Isaías fala-se do fim do exclusivismo religioso dizendo que aqueles que se converterem e cumprirem a lei terão a salvação como qualquer filho de Israel. Escolhe para exemplo a figura dos estrangeiros e dos eunucos. Na antiguidade havia homens, no geral bem constituídos, que tinham a missão de guardar as mulheres dos outros. Mas para isso eram castrados. Isaías falando em nome do Senhor, diz sobre estes o seguinte:

"Se um eunuco respeita os meus sábados, decide fazer o que me agrada e persevera na minha aliança, dar-lhe-ei no meu templo e na minha cidade um monumento e um nome, bem melhor que filhos e filhas. O seu nome ficará para sempre e nunca mais acabará".

Porquê esta citação?

É que foi nestes versículos que o Parlamento Israelita se inspirou para aprovar a Lei do Yad Vashem, de 1953.

De Ein Kerem, terra  natal de João Baptista, até Yad Vashem, na solarenga e verdejante colina do Monte Herzl, são uns escassos vinte quilómetros. Mal deu para descansarmos um pouco no autocarro.

Yad Vashem é o local onde se encontra o Museu do Holocausto.

Pensava eu que iríamos encontrar um ambiente sombrio. Mas não é assim. Em vez de museu chamar-lhe-ia eu outra coisa, por exemplo jardins da memória ou algo assim. 
 
 
Na verdade, entrámos num imenso parque ajardinado, de dezoito hectares, com espaços verdes e estradinhas arranjadas para passeios pedestres, decoradas com obras de arte de diversas cores e tamanhos. E há edifícios muito bem desenhados e implantados em termos de localização e volumetria que se integram bem na paisagem natural. Logo à entrada, somos invadidos por um instintivo sentimento de respeito. Há avisos para que os visitantes guardem algum silêncio e um "dressing code" mínimo. Não são permitidas mini-saias ou calções.

À chegada, o guia Sebastião fez-nos uma introdução breve explicando-nos o que iríamos ver. Primeiro visitaríamos o Memorial das Crianças e depois teríamos alguns minutos livres para passearmos pelos jardins. 
 
 
 Disse-nos que durante a visita ao Memorial iríamos ouvir nomes de crianças e pediu-nos que cada um de nós fixasse um.
 
 
Mal acabámos de entrar começámos a ouvir nomear pessoas: um nome, a idade e a terra de origem. Cada nome demora cerca de três segundos a ser dito. O locutor tem voz radiofónica adequada e pausada. Eu fixei Frank, de treze anos, de Viena.

De um corredor inicial, com fotografias de crianças, chegámos a uma grande câmara redonda, de teto abobadado, com as paredes todas cobertas de miríades de luzes que se multiplicam por efeito de espelhos. 

Sem fazer pausa, o locutor, numa fita gravada, vai mencionando nomes. Provavelmente nenhum dos mencionados nesse momento tem a fotografia exposta no Memorial.

Seguimos o nosso percurso até sairmos do outro lado do túnel. À nossa espera estava o Sebastião que, antes de mais, se quis inteirar das nossas impressões. Depois, ao acaso, perguntou a uma das companheiras qual tinha sido o nome que ela fixou. E ela disse o de uma menina, muito jovem, da Polónia.


E disse o Sebastião:

Senhora, o locutor vai continuar a mencionar nomes indefinidamente. É uma gravação. Mas o nome dessa menina só volta a ser mencionado daqui a um ano. Se, então, estiver novamente aqui pode ser que o ouça novamente.

Yad Vashem, é a designação de uma lei que o Knesset aprovou em 1953 para legitimar a perpetuação deste espaço à memória dos seis milhões de judeus vítimas de violência nazi. Yad Vashem quer dizer um memorial e um nome, palavras inspiradas nos versículos de Isaías que transcrevi acima. Estes dois substantivos traduzem bem a impressão que sentimos enquanto visitámos aquele espaço. O objetivo é impedir que a memória de seis milhões de pessoas e a brutal violência contra elas praticada sejam pura e simplesmente apagadas da face da terra como se essas pessoas e a violência nunca tivessem existido.


Não são apenas as vítimas que lá são lembradas. Também aqueles que, sendo de outras culturas, se esforçaram, contra ventos e marés, para proteger judeus perseguidos, poderão ter aí um memorial com o seu nome na Avenida dos Justos Entre as Nações. Li algures que são assim reconhecidas como Justos entre as Nações cerca de 16.000 pessoas. Mas só algumas têm o nome inscrito numa placa da Avenida de Yat Vashem.

O nosso compatriota Aristides Sousa Mendes, bem conhecido pelo seu empenho em salvar gente judia perseguida mesmo com prejuízo da sua carreira e da sua própria subsistência, também tem aí uma merecida invocação.

Num passeio breve pudemos verificar que o complexo tem espaços dedicados a atividades diversificadas, relacionadas com as vítimas da perseguição nazi.


Ao fundo da Avenida dos Justos entre as Nações vemos o Museu de História que guarda um vasto acervo de documentos sobre o nazismo e a formação da sua doutrina antissemita.

 
 
 
Pudemos dar um passeio breve pelos jardins. No conjunto, mais de vinte monumentos integram Yad Vashem. Não os vimos todos. Nem sequer tivemos tempo para ir ao Museu do Holocausto propriamente dito. Mas o Memorial das Crianças tocou-nos bem no fundo.

 
 
 
 
Acabada a visita regressámos ao Hotel Olive Tree.

O dia tinha sido longo e o grupo mostrava evidente cansaço. No loby do hotel, o guia Sebastião deu as suas instruções para o resto do dia e para o dia seguinte.

Estaria na sala do bar após o jantar com os fotógrafos para entregar os DVDs e as fotografias da Via Crucis a quem os quisesse adquirir. E no dia seguinte, bem cedinho, devíamos estar ali de novo com armas e bagagens para prosseguirmos a nossa viagem, mudando de poiso, ou seja, viajando para uma nova terra e para um outro hotel.

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