sábado, 17 de janeiro de 2015

Viagem à Terra Santa em 2014. 9. Em 28 de Abril. Jerusalém. 9.5.

9.5. Túmulo do Rei David, Cenáculo e Sala do Pentecostes

Estes três lugares santos fazem parte de um mesmo edifício situado nas traseiras da Igreja da Dormição. E são, no meu entender, o melhor exemplo do que foram as sucessivas ondas de ocupação, destruição e reconstrução através da história.

No rés-do-chão está sepultado, segundo a tradição, o Rei David. Assim, a santificação do local começou pelo menos  mil anos antes de Cristo. O arqueólogo americano Edwin Thiele localizou o nascimento do Rei David no ano 1040 antes de Cristo e a sua morte no ano 970.

E, no primeiro piso, encontra-se a sala do Cenáculo, onde terá ocorrido a última ceia.

E, com o acesso através desta sala, mas a um nível ligeiramente superior, após subirmos alguns degraus, encontramos a sala do Pentecostes onde o Espírito Santo terá descido sobre os discípulos de Cristo em forma de línguas de fogo.

O nosso grupo saiu da igreja da Dormição praticamente em passo de corrida. O destino era o mencionado edifício dos três lugares santos. De repente reparei que esvoaçavam, relativamente baixas, várias cegonhas e aproveitei para as filmar e fotografar.
 
 
Uma das companheiras do grupo ficou ao meu lado a fazer a mesma coisa. Foram uns breves instantes. Mas quando retomamos o nosso caminho já não vimos mais ninguém do nosso grupo.   Estávamos perdidos. Bem. Eu gracejei comigo próprio dizendo para os meus botões que ninguém se perde com uma estrela ao lado. A companheira que estava comigo chama-se Estrela e, por isso, fui atrás dela. Ela dirigiu-se para o autocarro. Lá não  havia ninguém do grupo a não ser o motorista. Voltámos para trás e pensámos que talvez tivessem ido agora ao Cenáculo, onde tínhamos tentado ir logo quando chegámos.

As coisas contadas agora parecem bastante simples. Mas na realidade foram bem diferentes. É que por estes lugares, em dias de funcionamento normal, há verdadeiras multidões, e, num grande ajuntamento e com o nosso espírito perturbado, é difícil distinguir as pessoas. A não ser que se use um meio que, pela sua dimensão, nos permita encontrar facilmente o que procuramos. E foi assim que entrando para o beco de acesso ao Cenáculo vimos a mancha dos bonés cor de laranja que o Grupo de Cucujães usava nesse dia. Alguns dos companheiros ainda tiravam fotografias à estátua do Rei David tocando arpa, que ali se encontra.
 
 
E foi assim que retomámos a normalidade aproveitando para fotografar este monumento, o que, dado o elevado número de pessoas que estavam a fazer o mesmo, não foi lá muito fácil.

O nosso guia encaminhou-nos, após uma breve explicação, para uma entrada no rés-do-chão que dá acesso ao local onde judeus, cristãos e muçulmanos admitem que tenha sido sepultado o Rei David. E, na verdade, chegámos facilmente a uma câmara, não muito ampla, onde está um túmulo em pedra coberto com um pano roxo com inscrições em hebraico.

Estava eu a fotografar o túmulo quando um jovem rabino, vestido segundo o rigor da tradição e com um ar de intelectual, se aproximou de mim e me perguntou de onde é que eu era. Eu disse de Portugal e ele logo gritou Ronaldo e "You are Portuguese, you are my friend. Let me bless you and pray for you and your family" e pôs-me de imediato na cabeça a estola às riscas que tinha sobre os ombros, o talit, e começou a rezar em voz audível e aparentemente concentrado e de olhos fechados. Manteve-se assim cerca de três minutos, enquanto eu pensava se o devia afastar ou não. Mas acabou por dominar o sentimento de que quem reza assim por mim mal não me faz. E assim senti-me bem.

Quando acabou disse mais umas palavrinhas de simpatia para, a seguir, me perguntar junto ao ouvido, se eu não podia dar um contributo para ajudar. Dei-lhe uma nota de dez euros e ele ficou muito contente e voltou a pôr-me o talit na cabeça e a dizer nova sessão de orações tendo começado e agora "para que Javé abençoe os seus negócios... "

A seguir ofereceu-se para me tirar uma fotografia junto ao túmulo, o que me permitiu ficar com esta recordação.

 
 
Gostei de visitar o local. Apesar de estar repleto de gente, a maior parte evidenciando o ortodoxismo judaico, não me senti como um visitante estranho naquele espaço.


 
Saímos e ainda fizemos um compasso de espera junto à estátua do Rei David.




Mas não chegámos a ir ao piso superior para entrar no Cenáculo e na sala do Pentecostes. Tive de fazer posteriormente uma visita cibernética aproveitando a muita informação que podemos encontrar disponível na net. E já vi tanta coisa que, por momentos, tenho dúvidas sobre se já lá fui ou não.

Sem comentários: