quarta-feira, 21 de março de 2012

A fragilidade da paz

1. Muito perto da empresa onde trabalho, havia um conhecido Restaurante onde eu e um amigo costumávamos, de vez em quando, cruzar talheres e pôr as conversas em dia. Posso dizer que já éramos fans quase assíduos de um saboroso pargo no forno que os simpáticos senhores do restaurante preparavam para nós sob encomenda prévia. Numa das últimas vezes que lá fomos, sentámo-nos e, durante bastante tempo, éramos os únicos clientes do restaurante. O meu amigo, jornalista, figura pública, comentou:
- Que sossego! Que paz! Está-se bem aqui!
Passados uns dez minutos entrou no restaurante um casal de duas figuras públicas, que se foi sentar no outro canto da sala. Porém, como o espaço não era muito, não ficaram assim tão longe. Parecia que tinham vindo para um almoço familiar pacífico. Não tardaram, porém, a envolver-se numa discussão da qual, apesar de ter decorrido em surdina, foi impossível não ouvir algumas palavras. Por três vezes a senhora, bonita, que tem sido várias vezes capa de revista, foi à casa de banho abafando soluços e lágrimas, voltando de lá a tentar limpar os olhos húmidos com as costas das mãos. A discussão deste casal levou o meu amigo o corrigir o que tinha dito antes:
- Afinal falei cedo de mais. A paz que tínhamos era, como se costuma dizer, uma paz podre.

2. Gostava de ir a esse restaurante. Os empregados, todas pessoas com muita experiência, tratavam-nos sempre com muita deferência e afabilidade. Há muitos anos que ali trabalhavam, gozando de estabilidade e de paz. Só que, há umas semanas atrás, quando eu e o meu amigo estávamos a marcar o nosso próximo pargo no forno,soubemos da notícia de que, um dia antes, quando os empregados iam começar a sua rotina normal de um dia de trabalho tinham o patrão à espera para lhes dizer que o restaurante estava definitivamente fechado. E disse-lhes para irem para casa que, mais tarde, os haveria de contactar para os compensar conforme os seus direitos. E soube depois que, no mesmo dia, fez o mesmo em mais dois restaurantes de referência que tinha no Concelho de Cascais. Falta dizer que este patrão tinha tido, uns dias antes, uma inesperada espera quando ia abrir o restaurante onde me costumava encontrar com o meu amigo. Três indivíduos que se deslocaram de motorizada e que usavam capacete integral agrediram-no violentamente e roubaram-lhe todos os valores que tinha consigo. Passou alguns dias no hospital.

Afinal a paz era só aparente. Esta restauração de que gostávamos, há muito que estava a ser minada por uma insondável guerra larvar. A paz era só aparente e falámos dela cedo de mais.

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