domingo, 8 de junho de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 – 5. Dia 24 de Abril, de Tel Aviv a Tiberias. 5.3.

5.3. No Monte Carmelo.

Após o almoço em Cesareia ainda houve tempo para um pequeno passeio pela parte bizantina do complexo arqueológico. Mas foi muito curto porque os guias começaram logo a pressionar-nos para irmos para o autocarro.

A distância de cerca de quarenta quilómetros entre Cesareia e o Monte Carmelo demorou uns cinquenta minutos a percorrer. Durante a viagem os nossos guias puseram-nos ao corrente do que iríamos ver a seguir. Alguns companheiros aproveitaram o percurso para uma soneca. Eu consegui resistir a essa tentação por virtude da maneira interessante com que os guias iam contando as suas histórias.

Primeiro foi o P. Artur que se referiu ao Monte Carmelo descrevendo-o como a sede e origem da ordem dos carmelitas. Depois contando a história do profeta Elias que por ali andou. A certa altura foi perseguido de morte e conseguiu esconder-se numa gruta que iríamos visitar. Escapou evidentemente.

O guia Sebastião, judeu praticante, surpreendeu-nos com o seu tom de relato inflamado. Por vezes mais parecia um padre católico. Por exemplo falou com entusiasmo da devoção a Nossa Senhora do Carmo, devoção essa que nasceu naquele monte, e do uso do escapulário dizendo que era na loja do convento carmelita que os devotos os deviam comprar, pois não há nenhuns como aqueles para dar proteção.

Contou ainda duas outras histórias que me prenderam a atenção e que merecem ser aqui referidas.

Uma foi que em Haifa, a terceira maior cidade de Israel, que fica no sopé do Monte Carmelo, a juventude das diversas religiões organiza todos os anos um festival muito participado, que enche de alegria as ruas com eventos diversos dando as mãos e trocando beijos e abraços para o entendimento global. Não querem ouvir falar de disputas políticas, mas apenas promover o entendimento global entre os jovens, para que o futuro seja cimentado na paz e no respeito mútuo pelas culturas religiosas.

Depois disse-nos ainda que Haifa é a sede mundial da fé Baha’i. Falou-nos sobre o percurso do fundador desta religião, desde Teerão onde nasceu, cresceu e viveu como bom muçulmano, chegando a ter três esposas ao mesmo tempo, o que, na lei islâmica, é uma virtude. Contudo, em certo momento, sentiu a revelação messiânica e começou a pregar e a divulgar uma nova doutrina que, no meu entender, é mais uma filosofia de vida do que uma religião. Respeita todas as outras religiões, defendendo que não são mais do que caminhos diferentes que vão conduzindo a humanidade para o momento em que haverá apenas uma religião universal que a tornará feliz.

Quase que nem dei pelo tempo a passar e já estávamos a subir o Monte Carmelo. A estrada é um pouco sinuosa mas larga. E logo reparei que, de um lado e do outro, há casas e condomínios luxuosos, pelo que pude concluir que, na parte residencial do Monte Carmelo, mora gente muito rica.


Chegados ao Convento entrámos na igreja e fomos guiados através de uma porta que está logo à esquerda, seguindo-se diversos corredores, passando por uma sacristia espaçosa, para ser sentados numa capela onde iríamos assistir à nossa primeira missa na Terra Santa celebrada pelo nosso bom P. Artur. Como aconteceu em todos os outros eventos religiosos, o Sebastião reteve-se no exterior acompanhado por uma das nossas companheiras que me disse que não está para estas coisas e que coisa de missas não era com ela. Esta capela fica exatamente nas costas do altar-mor da igreja em que tínhamos entrado.


A história da missa resume-se a isto, decorreu como todas as missas, havendo um grupo de companheiros que trazia no bolso o livro de cânticos, pelo que não foi propriamente uma missa silenciosa.

A surpresa estava reservada para o fim, quando os nossos companheiros mais próximos do P. Artur começaram a cantar-lhe os parabéns a você, logo que ele disse vamos em paz e que o Senhor nos acompanhe. E umas simpáticas senhoras companheiras e um companheiro logo se lhe dirigiram e lhe ofereceram pequenas lembranças que ele fez questão de abrir e mostrar.


Regressámos pelos mesmos corredores até à igreja, dedicada a Nossa Senhora do Carmo, de quem há uma linda imagem no altar-mor. Por detrás da mesa do altar está uma imagem do profeta Elias, feita de um material muito escuro, mas muito bem trabalhado. Foi um momento importante para mim porque me senti invadido pelo prazer de ter o privilégio de estar num local verdadeiramente sagrado. Curiosamente vão ali em peregrinação, não só os cristãos mas também os judeus e os muçulmanos.


O nosso grupo cantou em coro o cântico “Aqui vimos Mãe querida afirmar o nosso amor…”.


E curiosamente vi muito orgulho nos rostos dos nossos companheiros por estarem ali, naquele sítio sagrado e numa terra tão distante, a cantar, a plenos pulmões, um cântico em português.


Retomámos o autocarro para continuarmos a nossa visita ao Monte Carmelo.

Chegámos a um passeio / miradouro chamado Louis Promenade. E nem queria acreditar no que estava a ver.

A encosta que descia até à cidade de Haifa, lá ao fundo, contém uns jardins tão bem desenhados e cuidados que mais parecem celestiais. E, lá ao fundo, está uma imponente cúpula doirada que, explicou o Sebastião, é o mausoléu do fundador da fé Baha’i. E toda esta encosta, com os jardins, faz parte do complexo Baha’i.


A minha admiração levou-me a questionar como é possível a uma fé, que tem pouco mais de um século, ter aqui um livro tão bonito e tão extenso aberto a toda a gente. Os católicos, nos seus esforços de dois milénios, apenas mantêm ali o Convento Stella Maris dos carmelitas, escondido entre altas paredes.

Certamente que por detrás deste livro Baha’i tão extenso e tão belo, que, atualmente é a principal referência da cidade de Haifa, a terceira maior cidade de Israel, há a fé de milhões de pessoas, mas também dinheiro. Uma coisa destas só é possível com muito, muito dinheiro.

Retomámos o autocarro para nos dirigirmos para a cidade de Tiberias. Mal começámos a viagem decaí num sono profundo em que até sonhei. Daí que não tenha nada para relatar a não ser os sonhos. Mas estes não têm lugar aqui porque estão completamente fora do contexto.

Ainda bem que dormi pois assim não dei pela demora da viagem que foi complicada, com engarrafamentos, devido ao muito trânsito pela proximidade do fim de semana judaico.

Acordei já perto do Hotel Leonardo Club em Tiberias, onde começará o próximo apontamento.

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