sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Passagem de ano em Cabo Verde – 16. Da cidade da Praia à vila do Tarrafal

A cidade da Praia assenta em duas colinas principais: o Platô (ou Plateau em francês) e a Achada de Santo António. A primeira corresponde à elevação onde se desenvolveu a cidade antiga, que sucedeu à Cidade Velha, e onde estão localizados a Presidência da República e os ministérios, bem como a câmara municipal e o banco central. Na segunda estão localizadas a Assembleia Nacional e as principais embaixadas de países estrangeiros, bem como os escritórios de representação de organizações internacionais. Aqui a construção é relativamente recente.

A tarde do dia 2 de Janeiro já ia avançada e era nosso objectivo chegar ainda nesse dia ao Tarrafal. Tínhamos reservado, com antecedência, junto de uma agência de aluguer de automóveis, um veículo que nos deveria ser entregue por volta de determinada hora desse dia. Como a agência se situa na Achada de Santo António, foi para lá que nos dirigimos para irmos levantar o carro.

Entretanto, entrámos na Pastelaria Pão Quente para aconchegarmos os nossos estômagos com uma coisinha leve, pois estavam muito doridos devido à severidade da viagem do Fogo para a Praia. Ficámos surpreendidos pelo ar tão português desta Pastelaria. Lá entendem o que é uma bica, um galão, meia de leite ou uma imperial. Enquanto lá estivemos vimos chegar vários expatriados portugueses para apenas comprar pão, usando as designações que se usam nas nossas padarias: carcaças, pão centeio, pão da avó e outras.

A frota de carros disponível para aluguer na cidade da Praia não é grande e, por isso, convém fazer a reserva com alguma antecedência. E, mesmo assim, as coisas nem sempre funcionam bem. Na verdade, quando nos dirigimos à agência, ainda não tinham um carro disponível alegando que o cliente anterior não o tinha devolvido em tempo. Perante a nossa reacção e decepção, acabou por aparecer um outro que era uma pick up de caixa aberta e com cabine para cinco passageiros.


Tivemos que esperar para que fosse limpo. Mas como tínhamos presente a história dos casubodis, ficámos um pouco receosos por termos de levar as bagagens na caixa aberta, se bem que uma mala pesada não seja propriamente uma carteira com dinheiro.

Da Praia ao Tarrafal são cerca de setenta quilómetros e atravessa-se a ilha de Santiago de ponta a ponta no sentido sul norte. A paisagem durante o percurso é muito bonita e variada.




Os nomes das povoações ficam facilmente na nossa memória: Nora, S. Domingos, Achada da Igreja, Assomada, Banana, Curral Velho. Chão Bom, Tarrafal.

Queríamos chegar ao Tarrafal antes do anoitecer. Só que em Cabo Verde há que andar devagar. Navegar à vista. De um momento para o outro pode aparecer um rebanho, uma vaca, ou mesmo um grupo de adultos ou crianças que transitam despreocupadamente na estrada.


E depois há as lombas colocadas na estrada de propósito para desincentivar as velocidades. E são grandes lombas nem sempre visíveis com a antecedência necessária. Há ainda o risco de outro tipo de obstáculos completamente imprevisíveis. Na Serra da Malagueta, num ponto em que a serra se ergue a pique ao lado da estrada, havia detritos resultantes da queda de pedras que ocupavam meia via. Mal assinalado, perigoso, estava este obstáculo.


Passámos por lá várias vezes nos dias seguintes e lá continuava.

Entretanto as cores do entardecer tornaram a paisagem particularmente bela e foram uma boa razão para uma breve paragem de relaxamento.



Surge a povoação de Chão Bom, já colada ao Tarrafal. É aí que se localiza o Campo de Detenção, hoje monumento nacional.

Sem comentários: