sábado, 31 de maio de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 – 5. Dia 24 de Abril, de Tel Aviv a Tiberias.

5.1. De Tel Aviv a Cesareia

Houve alguma tolerância em relação à hora de acordar. A saída estava prevista para as 9:45.

Ao abrir as cortinas da janela de um piso elevado do Grand Beach Hotel de Tel Aviv e ao dar com uma paisagem iluminada por um sol que não retirava à natureza as cores da manhã, fui invadido pela agradável sensação de estar num país bonito e seguro, o que foi um bom começo para a nossa estadia na Terra Santa.

Via à minha frente uma cidade moderna, bem arrumada, de ruas bastante largas, sendo possível, ao olhar um pouco mais para a esquerda, repousar os olhos numa extensa mancha azul do mar Mediterrâneo. Olhando em frente via a parte superior dos edifícios, coberta de um número impressionante de painéis de captação de energia solar.

Com o zoom da máquina de filmar pude captar alguns pormenores interessantes, nomeadamente uma ave local a alimentar os seus quatro filhotes no seu ninho em cima de um poste de telecomunicações que se encontrava no eixo da movimentada estrada que estava lá em baixo.

Durante toda a viagem vimos, com bastante frequência, aves deste tipo, que têm corpo idêntico ao dos nossos corvos e grasnam como eles. No entanto, a par da cor preta na cabeça e nas asas, têm cor de café com leite no resto do corpo. Também os pardais estão presentes por todo o lado. Encontrámos ainda pombos e, por vezes, rolas.

A sala do hotel para o pequeno-almoço, no segundo andar e ao longo de quase toda a fachada da frente, é ampla e o serviço de bufet muito variado. Contudo, faltavam muitas das coisas da nossa preferência ocidental. Mas como havia muito para escolher, não foi difícil organizar os pratos com o que víamos mais adequado para nós.

Após o pequeno-almoço ainda houve um compasso de espera até à chegada do autocarro, que nós aproveitámos para ir a uma loja de conveniência comprar alguns artigos úteis, nomeadamente água. Ao pagar não recebiam moeda estrangeira mas apenas a moeda local, o shequel. Contudo aceitaram facilmente o pagamento com o cartão de crédito Visa. Em toda a restante viagem usámos facilmente os euros em pagamento, sendo que, por vezes, nos faziam o troco em shequels.

Começou a viagem de autocarro ao longo da costa mediterrânea até à cidade de Cesareia Marítima. Durante o percurso, o nosso guia Sebastião, de origem argentina, foi-nos dando explicações sobre as povoações por que passávamos e sobre a vida social e económica de Israel. E também sobre a história da região. Como nos dirigíamos para uma cidade com imponente presença romana, aproveitou para nos contar a história de Flávio Josefo, o homem a quem devemos o relato histórico do que se passou na Terra Santa nos primeiros tempos da era cristã. Ele era um judeu descendente de boas famílias e com uma cultura claramente acima da média da altura. É graças a ele que sabemos bastantes detalhes do que se passou nos anos setenta, aquando do cerco e destruição de Jerusalém.

Desde o começo do domínio romano foram frequentes as revoltas, tendo quase sempre os revoltosos a mesma sorte: morte por crucificação. Josefo chegou a ir a Roma como embaixador no ano sessenta e quatro, onde conseguiu a simpatia da mulher do imperador Nero, Pompeia Sabrina, que o ajudou na libertação de alguns sacerdotes judeus que aí se encontravam prisioneiros. Em sessenta e sete, já na Galileia, de que chegou a ser temporariamente governador, tomou ele próprio parte numa rebelião, na cidade de Jotapata, enfrentando os romanos, superiormente comandados por Tito, filho do imperador Vespasiano. Ao ver-se derrotado, Josefo, que então se chamava Yosef Ben Mattityahu, escondeu-se com mais quarenta homens numa cisterna. Foram descobertos e os romanos tentaram que se rendessem em troca das próprias vidas. Eles preferiram o suicídio coletivo, mantando-se em grupos de três. Josefo e um seu soldado eram os últimos e um devia matar o outro e a seguir suicidar-se. Pensando melhor preferiram entregar-se. Ao ser presente ao comandante superior das tropas, Tito, Josefo proferiu algumas palavras certas no momento certo, saudando-o como futuro imperador de Roma, o que mais tarde veio acontecer. Foi levado para Roma e passou a gozar da proteção imperial. Feito cidadão romano, Josefo deixou um valioso contributo para a história. Sem as suas obras, muito do que aconteceu no século primeiro teria sido pura e simplesmente esquecido. Hoje para muitos dos judeus ele continua a ser um traidor. Mas para outros ele é um homem que soube usar a inteligência de modo próprio, tendo dado um importante contributo para o relato histórico, se bem que, dando quase sempre a perspetiva do poder romano.

Os cinquenta e dois quilómetros que separam o Grand Beach Hotel de Tel Aviv de Cesareia foram percorridos em cerca de quarenta e cinco minutos, ouvindo esta história e outras, nomeadamente sobre a organização social, agricultura, a água, bem muito precioso em Israel. Falou da sua captação em terras longínquas, o seu uso e cuidadoso aproveitamento das águas residuais e o processo de dessalinização da água do mar.

Cesareia impressionou-nos pela sua história e pelo excelente trabalho de recuperação arqueológica que pôs à vista a sua monumentalidade.

Dela falarei no próximo apontamento.

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