quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 - 8. Em 27 de Abril, em Jerusalém. 8.4.

8.4. A Igreja da Agonia

Esta igreja é também conhecida como Igreja de Todas as Nações pelo facto de ter sido fruto de um concertado contributo de benfeitores de um conjunto de nações, cujas cores nacionais assinalam a respetiva contribuição. O número de nações é significativo, mas entre elas não figura a nação portuguesa.

 

 
 
Foi também desenhada pelo arquiteto António Barluzzi nos anos vinte. A sua construção, que ocorreu entre 1919 e 1924, sofreu vários incidentes, com tentativas de embargo por parte dos vizinhos cristãos ortodoxos russos e dos judeus, motivados por insondáveis desígnios. E ainda bem que foi construída pois é um templo excecional sob muitos aspetos: religioso, histórico, artístico e monumental.
 
Como outros lugares santos reflete as investidas da história, pois é já a terceira igreja construída no local. A bizantina, que foi destruída em 614 pelos persas. Uma basílica erguida pelos cruzados no século XII, que foi destruída não muito tempo depois por Saladino.

A igreja atual respeita os alicerces da igreja bizantina. E, como as anteriores, tem como ponto central uma rocha rasa e larga, talvez com uns três a quatro metros de diâmetro, sobre a qual Cristo terá orado e suado sangue pouco antes de ter regressado à Gruta do Gethsemani onde foi localizado e denunciado por Judas para, de imediato, ser preso.

 
 
Foi para mim muito marcante o momento em que nela entrei. Da luz intensa da rua, própria de um dia de sol no seu apogeu, entrámos na igreja e, por momentos, pareceu que não víamos nada, a não ser a luz roxa filtrada pelas janelas. Mas os olhos habituaram-se rapidamente e o cenário caiu sobre nós num esmagamento surpreendente tornando quase real a atmosfera do sofrimento que se abateu sobre Cristo.  Isto porque deparámos com muitas pessoas prostradas à volta de uma rocha com vários metros de diâmetro, cercada por uma grade em ferro a imitar uma grande coroa de espinhos. Fomos envolvidos pelo ambiente de luz ténue mas intensamente roxa. Os raios que vinham da janela e que passavam muito acima das nossas cabeças formavam como que um céu estranho em que fervilhavam miríades de minúsculas partículas suspensas, também roxas. A iluminação local era muito discreta e não perturbava este ambiente de profundo respeito a inspirar sofrimento.

 
 
 
 

O momento em que nos baixámos e tocámos na rocha da agonia é inesquecível. Eu senti como que uma força estranha a invadir-me, não de desânimo ou prostração, mas de conforto. Pensando bem, já vários milhões de pessoas fizeram o mesmo através dos tempos, depositando ali suspiros de solidariedade com os sofrimentos de Cristo e deixando uma imensa variedade de tipos de súplicas e anseios.


 



Um outro aspeto que impressiona é o das cúpulas e o das janelas. Olhamos para cima e podemos contar doze cúpulas, o que não deixa de nos parecer exótico, por ser pouco comum nos templos da nossa tradição arquitetural religiosa. Estas doze cúpulas provocam uma sensação angular e quase que sentimos espinhos a penetrar-nos no espírito trazidos pela luz refletida pelas cúpulas que representam uma noite de céu bem estrelado.

A densidade do ambiente roxo ficou limitada ao interior da igreja.

Ao sairmos, olhámos para a frontaria e vimos um colorido quadro bíblico, em que Jesus está num ambiente bem vivo, como que de mediador entre os homens e o céu. Este colorido não é comum em monumentos do género, pois o vulgar é termos estátuas e baixos-relevos em pedra, mais ou menos trabalhada, monocromática.

 


O trabalho polícromo do cimo do frontispício é em mosaico e foi desenhado por Bagelli.  Por baixo do quadro colorido da parte superior do frontispício erguem-se quatro colunas, suportando, cada uma delas, um dos quatro evangelistas, estes sim em estátuas de pedra.

 


Ao lado da igreja está um horto cercado por grades de ferro, não muito altas, onde pudemos admirar algumas oliveiras com troncos largos e antigos, que provavelmente já existiam no tempo de Jesus.  Uma delas, ainda nova, localizada no ângulo junto à torre sineira, foi plantada pelo Papa Paulo VI.
 
 


 
Tivemos o privilégio de ouvir os sinos tocar em festa durante alguns minutos provocando-nos sensações bem diferentes das que sentimos no interior da igreja.

 

Logo que os sinos se calaram dirigimo-nos para o exterior do recinto para retomar o autocarro e irmos à procura do almoço.

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