domingo, 3 de fevereiro de 2013

Passagem de ano em Cabo Verde – 10. À descoberta da ilha Brava

Era o dia 1 de Janeiro de 2013, terça-feira. No apontamento anterior descrevemos como estávamos a passar a manhã. Tínhamos acabado de passar pela igreja de S. João Baptista de Nova Sintra, onde assistimos a parte da missa. Não ficámos mais tempo porque tínhamos marcado para o meio-dia o nosso encontro na Pensão Viviplace com um nosso potencial condutor e guia. Por isso fomos para lá já em passo apressado.
Uma vez chegados sentámo-nos nas cadeiras vermelhas do pátio da pensão e aguardámos. Não tinha aparecido ninguém. Por volta das doze e trinta chegou o Sr. Vivi que regressava da missa e que ficou surpreendido por nós ainda ali estarmos. E logo comentou que, afinal, podíamos ter assistido à missa até ao fim. Foi directo para o telefone para mais uma chamada. E voltou.
Eles vêm. É só mais um pouco.
Vinte minutos depois apareceu um rapaz todo vestido de roupa domingueira, com o cabelo ainda molhado a dizer que era ele que nos ia levar ao passeio e que regressava daí a vinte minutos. Ao vê-lo sair reparei que ele fazia esforço para não cambalear e senti insegurança em ir viajar com ele. Silenciosamente comecei a recear que o nosso passeio pela ilha não se ia realizar e que o plano de contingência se limitaria a mais um passeio a pé por Nova Sintra, um pouco mais alargado que os anteriores e era tudo.
Já passava das treze e quinze quando finalmente apareceu um senhor, alto, de camisa branca, com aspecto muito diferente do que ali tinha estado antes. Logo se apresentou. Eu chamo-me Tony, Tony Vale, e sou o dono da Hiace de que estão à espera. Venho eu próprio porque os meus dois empregados estão alcoolizados devido às festas de fim de ano. Nunca iria deixá-los conduzir a minha carrinha nesse estado. E também não quero deixar os senhores, que nos visitam, dependurados. Perguntámos-lhe como é que ele se sentia e ele disse que se sentia bem, que graças à educação que os pais lhe tinham dado na igreja adventista aprendeu a ser moderado em tudo e muito mais com a bebida. E que, para além de ser o dono da carrinha, era motorista de profissão. Motorista da câmara municipal.
E com ele partimos à descoberta da ilha Brava.
O primeiro destino era a baía de Fajã d’Água.
Os minutos iniciais da viagem foram de adaptação à nova realidade. O condutor conduzia muito à vontade e tive de me auto convencer de que o fazia por ser profissional e conhecer bem o veículo e a estrada. Assim, durante o primeiro quarto de hora, nem me lembrei de que tinha uma máquina fotográfica na mão e só me recordo do sobe e desce, das curvas e contra curvas por um turbulento caminho empedrado a que chamam estrada, rasgado pelas encostas da montanha. No meu lado, o lado direito do veículo, as vistas eram para as escarpas que desciam até ao mar e, instintivamente, ia agarrado ao banco.
Só passado um quarto de hora é que me dei conta de que afinal tinha uma máquina fotográfica na mão e que lá no topo da montanha havia casas brancas. A paisagem era bonita, merecendo ser registada num postal de turismo. E surgiu a primeira fotografia.



Íamos descendo na direcção do mar. A estrada tinha, aqui e ali, por vezes de ambos os lados, as montanhas altas e a pique. A certa altura o nosso guia parou a carrinha e convidou-nos a sair para vermos como eram bonitas as vistas. E lá estava em baixo a baía de Fajã d’Água, num dia de sol, com o mar azul, adornada por um grande laço de espuma branca.


Demorámos apenas mais três minutos a chegar à vila, cuja primeira impressão foi de uma rua marginal ladeada pelo lado de terra por duas dezenas de casas, quase todas fechadas.
O nosso guia indicou-nos uma dessas casas dizendo que era um hotel e que poderíamos almoçar lá. Como estava tudo aberto entrámos por ali a dentro até nos aparecer um homem de estatura média, da casa dos cinquenta. Eu sou o dono do hotel e chamo-me José Andrade, o que pretendem. Queremos almoçar. Sim, é possível mas devo advertir desde já que os preços aqui são bastante mais puxados do que lá fora. Quanto é um almoço. Mil escudos por pessoa. Sim está arrematado. Nós vamos dar um pequeno passeio pela vila enquanto o senhor prepara o almoço. Está bem. Até Já.
Descemos à rua marginal e fomos na direcção do ponto em que entrámos. Havia muito poucas pessoas por ali. Apesar disso, sentíamos uma sensação de euforia e prazer pelo ambiente natural, ainda não prejudicado por factores de poluição citadina. Encontrámos, no percurso, um grupo de crianças que brincavam. Por momentos este grupinho crianças tão alegres provocou-nos a impressão de estarmos no mundo irreal da fantasia.


Uma pequena capela faz parte do complexo urbano da vila. Está situada logo à entrada, expressivamente virada para o mar, numa permanente acção de vigia por aqueles que viajam, trabalham ou se recreiam no mar.
Junto à capela, do lado de lá da estrada, está um espaço ajardinado com um cruzeiro no meio. Como o tempo era pouco, a visita foi corrida. Apenas o tempo necessário para tirarmos fotografias.



No regresso, havia uma pequena varanda térrea onde estavam três pessoas com aparência de visitantes que não resisti a ir cumprimentar. Era um casal belga com uma filha e estavam alojados mo Hotel Sol da Baía. Gostamos de estar aqui, disseram. Tudo está ainda tão perto do natural…
Chegados ao hotel, já o Sr. José Andrade estava à nossa espera. A vossa mesa é ali, que querem beber. E sentámo-nos numa mesa de pedra do seu jardim, virados para o mar. Parecia um sonho. Cercados de papaieiras e bananeiras, nos lados e atrás, tendo à nossa frente o mar azul, num dia de sol, com um silêncio ambiental quase total, não fora o bater e uma ou outra onda nas pedras redondas da praia acamadas em areia preta. Uma carne de vitela estufada acompanhada por legumes da horta do Sr. José Andrade e saboreada com vinho tinto Vila Chã, o vinho da ilha do Fogo, que nos pareceu delicioso.
E se há momentos belos que nos parecem demasiado curtos este foi um deles. O intolerante relógio arrumou-o no caixote do passado sem darmos por isso. Tivemos que voltar à Hiace para continuarmos o nosso passeio.
Mas agora, neste apontamento, sentimo-nos na liberdade de poder ficar por mais tempo a gozar o ambiente paradisíaco do Hotel Sol na Baía, a comtemplar as cores e os sons dessa maravilhosa tarde de dia 1 de Janeiro de 2013, até que o sol se ponha.

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